• 06/12/2024
  • por Resenha Politika

A Adolescência como Moratória - por Dermival Moreira dos Anjos

A Adolescência como Moratória - por Dermival Moreira dos Anjos

Segundo o doutor em psicologia clínica, Contardo Calligaris, a adolescência é criação da modernidade que retardou formalmente a emancipação do homem e desse modo acabou instituindo uma das formações culturais mais poderosas de nossa época. Esse processo não está de forma nenhuma desvinculado da cultura capitalista que, ao tempo que “prepara” o jovem para o mercado de trabalho, fatura bilhões de dólares anualmente em produtos destinados ao público juvenil. Ou seja, contraditoriamente, sob a ótica capitalista, os mesmos jovens incapazes para a vida civil, estão aptos para o consumo. Assim, a adolescência é nada mais que uma moratória instituída ao "jovem adulto" pela sociedade moderna.  Essa prática acaba por “privar” o jovem de ações para as quais, biológica e fisicamente ele já está apto, inclusive trabalhar, e protegê-lo das obrigações civis. Mas, com relação ao consumidor potencial, não só o consideram apto, como o estimulam a consumir.                                                                                                                                  .  
Essa avaliação que a sociedade faz do “adolescente” cria muitos conflitos em família que, dependendo da cultura à qual estão inseridos, vão delinear seu comportamento pelos próximos anos. A rebeldia e atitudes comportamentais que daí decorrem, são formas de os jovens burlarem essa moratória, inclusive assumindo posturas que muitas vezes se tornam marcas e ícones de expressão duradouros na formação de sua identidade. A adolescência é burlada quando o jovem, buscando sua autoafirmação, procura mudar sua imagem, normalmente se inspirando em personagens ícones da “contracultura”. Nesse momento sua preocupação é com a imagem e a postura, onde o objetivo maior é se identificar e ser aceito por um grupo afim. Para rebelar-se e bancar o custo de seu novo comportamento, muitas vezes, o adolescente, apela para a delinquência, transgredindo regras e convenções do mundo dos adultos. Nos casos de maior rompimento com a família, o caminho das drogas e do álcool acaba por ser uma válvula de escape.                                                                                                                                                        .                                               .
Sendo um produto da cultura moderna e alvo da propaganda consumista, o potencial de consumo que essa faixa etária representa para o mercado não pode ser desconsiderado. Pesquisas apontam que entre 20 e 30% do faturamento dos Shopping Centers diz respeito à venda de produtos destinados ao público adolescente. O problema surge quando a busca do jovem por sua autoafirmação se traduz em conflitos que extrapolam a esfera familiar. Nesse momento é a vez da sociedade e suas instituições custearem a reeducação e reinserção social do “monstro” que ela mesma criou.

Dermival Moreira dos Anjos é licenciado em Geografia pela UFPE e autor de “Identidade e Realidade – artigos e crônicas”.

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