• 10/01/2025
  • por Dermival Moreira

É o Calor ou a Umidade? - por Dermival Moreira

É o Calor ou a Umidade? - por Dermival Moreira

O calor nos últimos meses tem dado o que falar, não só no Brasil, como em quase todos os países, em suas respectivas estações mais quentes, lógico. A média das temperaturas globais está mais alta, mas se formos falar de desconforto ou sensação térmica é necessário que falemos de outro fator: a umidade. 

A umidade aumenta ou diminui a sensação de calor? Apesar do assunto ter caráter científico, eu diria que há um pouco de subjetivismo envolvendo essa questão, até porque a palavra "sensação" assim pressupõe. A umidade, seguida de chuvas, diminui o calor em regiões predominantemente quentes, mas, até que chova, o tempo mais úmido, que antecede a chuva, aumenta, sim, a sensação de calor. Em latitudes maiores (mais distantes do equador terrestre), o clima é mais ameno, chove pouco e o aumento da umidade, em qualquer época do ano, também aumenta em muito a sensação de calor.                                                                                                    

Nos ambientes tropicais, normalmente quentes, com períodos de seca e de chuvas bem definidos, ocorrem fenômenos que nos confundem quanto às sensações de conforto ou desconforto térmico.  Nesses lugares é comum se associar tempo chuvoso ao frio e tempo seco com o calor. Todavia, na maioria dos lugares do planeta, tempo seco coincide mais com o inverno, que é frio, e tempo úmido com o verão que é chuvoso com seu típico calor “abafado”. O que ocorre em países quentes como o Brasil, é que a chuva tem o poder de amenizar o forte calor e daí a confusão em se associar chuva, ou umidade, ao frio. Para reforçar isso, no nosso clima semiárido do Nordeste onde, de setembro a dezembro, o tempo é bem seco e quente, as pessoas logo associam o período seco ao calor. Mas experimente fazer uma caminhada de 2 km ao sol de 32 graus, com tempo úmido - entre 70 e 80% de umidade relativa - em João Pessoa, por exemplo - e faça a mesma coisa sob um sol de 36 graus com umidade entre 30 e 40% em Cajazeiras e veja em qual situação você sentirá mais calor ou se sentirá mais desconfortável. 

Uma vez em Florianópolis, uma ilha muito úmida, eu havia caminhado por duas horas no centro da cidade e já me sentia muito desconfortável e encharcado com o suor. Procurei um termômetro de rua e não acreditei quando o vi marcando apenas 29 graus. Era fevereiro, quando a umidade na capital catarinense é muito alta e passa dos 80%. Então lembrei que eu havia lido um artigo na revista "Seleções", explicando a causa do desconforto no verão na costa leste americana, muito úmida

                

Anos depois em Cuiabá, passei mais uma vez por experiência semelhante. Saí sob um sol de 37 graus as 2 da tarde e caminhei mais de 1 km até meu destino. Estava muito quente, mas o desconforto não era tanto e o calor “ameno” não correspondia àquela temperatura. Porém, a umidade do ar em Cuiabá em setembro é baixa e oscila entre 20% e 40%, razão do meu relativo conforto. É científico, mas a confusão das pessoas sobre o tema faz sentido. Sob a umidade nosso suor não evapora e encharca a roupa toda, aumentando a sensação de calor. No ambiente seco, ainda que esteja mais quente, é comum as pessoas falarem que não transpiram. Transpiram sim, até mais, apenas todo o suor evapora, não nos sentimos "pegajosos" e nossa roupa permanece seca, diferentemente do que ocorre com o tempo úmido.                                   

Dermival Moreira é licenciado em Geografia e autor de “Identidade e Realidade”. 

Comentários